Eu, Bertolt Brecht, nasci nos negros bosques.
No colo de minha mãe me fui para a cidade grande
Ainda pequenino. Mas o frio dos bosques
Enquanto eu viver hei de sentir.
Na cidade de asfalto sinto-me à vontade.
Munido desde o início de todo sacramento
De morte: jornais, fumo e aguardente.
Sou preguiçoso e desconfiado, mas feliz.
Mostro-me amigo dos homens. Como eles
Também uso chapéu-coco.
E digo: são bestas de cheiro singular.
Mas retruco: que importa? No fundo, também eu.
Por vezes, de manhã, nas cadeiras vazias de meu quarto
Uma mulher eu ponho a balançar-se.
Mas as contemplo indiferente e digo:
Pois bem, comigo é que vocês não vão contar.
À tarde reúno à minha volta os homens.
Chamamos-nos um ao outro: Gentleman.
Eles descansam os pés em minha mesa
E dizem: vai melhorar. E eu nem pergunto quando.
Na bruma da manhã mijam os abetos,
Seus parasitas, os pássaros, começam a gritar.
É a hora em que no bar eu esvazio o copo, jogo fora
O cigarro e adormeço inquieto.
Temos vivido, nós, volúvel casta,
Em casas que julgamos indestrutíveis
(Assim é que construímos os arranha-céus de Manhattan
E as delicadas antenas que divertem o Atlântico).
Dessas cidades restará: o vento que as perpassa!
A casa alegra o guloso: ele a esvazia.
Sabemos ser efêmeros.
E depois de nós haverá… nada digno de nota.
Nos futuros terremotos eu espero
Não venha a apagar-se o meu cigarro por causa da amargura.
Eu,Bertolt Brecht, atirado às cidades
Desde os negros bosques, no colo de minha mãe, em
Tenra idade.
Balada escrita em 1921
2 comentários:
Seu blog é um conta-gotas
de post em post
me pinga cultura.
=***
a cada 100 anos deveria nascer um brecht... talvez eles até nasçam, mas por onde andam, não é?
saudades.
abraço!
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