quinta-feira, 18 de outubro de 2007

Leminskiando

 

Não! Não há uma febre Lemínstica na Província-menor. Não tá na moda falar de Leminski pq, aqui, "pega mal falar de drogados subversivos"!! mas estamos todos na fila pra ler a obra sobre a vida de um cara de bigoda gigantesca que tinha idéias loucas originais!

e de mais a mais também, DANEM-SE OS QUE NÃO GOSTAM OU QUE NÃO LÊEM! Pra ler Paulo Coelho prestam, não é?? sub-leitores...

No dia 7 de junho de 1989, morria o poeta curitibano Paulo Leminski, aos 44 anos, vítima de cirrose hepática. De personalidade polêmica e arrebatadora, foi alçado à condição de mito da cultura brasileira graças à vida curta, porém intensa, e aos versos breves, mas profundos. Passados 15 anos da data, seu legado começa a ser melhor avaliado, já que a obra resiste ao personagem. Sua produção literária, popular porém ainda silenciada nas universidades, aos poucos atravessa os muros da academia - um reconhecimento que chega a tempo de celebrar o próximo dia 24, quando o poeta completaria 60 anos.
Recentemente, foram lançados diversos livros e teses que dissecam a obra do poeta, que também escreveu em prosa, fez traduções e biografias e compôs canções gravadas por Caetano Veloso, Moraes Moreira e Arnaldo Antunes. Em setembro, chega às livrarias A linha que nunca termina - Pensando Paulo Leminski (editora Lamparina), organizado por André Dick e Fabiano Calixto, com textos, ensaios e poemas de 42 autores, em sua maioria inéditos, sobre o autor de Caprichos e relaxos (1983).
- A idéia era ressaltar a obra e não a pessoa. A maior parte dos textos foi feita por pessoas que não tiveram contato com ele - diz Fabiano, de 31 anos, pernambucano radicado em São Paulo e poeta da nova geração.
Até o fim do ano, seus admiradores conhecerão também o livro inédito de contos Gozo fabuloso (DBA editora), trabalhado por Leminski pouco antes de morrer. Quem administra o baú do escritor é Alice Ruiz, sua ex-mulher, com quem teve três filhos. Também poeta e curitibana, Alice, de 58 anos, acha que o momento é propício para se redescobrir a obra do ex-marido.
- Depois de 15 anos dá para se ter uma idéia das coisas. Desde menino ele amava o saber, mas foi tocado pelas coisas da nossa geração, a contracultura, o rock, e fez a fusão. Era da característica dele ser uma pessoa profundamente moderna no sentido de ver tudo o que acontecia em nosso tempo. Era um hippie erudito - avalia ela, que ainda hoje se emociona ao falar do companheiro.
Para a crítica literária e professora de literatura da Universidade de São Paulo Leyla Perrone-Moisés, já está na hora de a academia incluir Lemisnki em seu currículo. Ela lamenta que o nome do poeta não circule na USP e aponta os motivos:
- Ele era ligado à poesia concreta, que tem seus inimigos. Além disso, sua obra ainda não entrou para o cânone porque é um risco formar alunos com coisas que ainda estão acontecendo, por isso o programa é defasado. Ao mesmo tempo, isso evita que ele se torne um objeto morto, sacralizado. Na Universidade Federal de Minas Gerais, a mentalidade está mudando, acredita Maria Esther Maciel, que dá aula de literatura na instituição e teve um ensaio incluído em A linha que nunca termina. Ela comemora o lançamento recente de livros como Aço em flor - A poesia de Paulo Lemiski, de Fabrício Marques, e Leminski, guerreiro da linguagem, de Solange Rebuzzi:
- Hoje, a resistência é menor do que há cinco anos. Já percebo que alguns professores daqui têm trabalhado poemas dele. Esses livros ajudam a quebrar barreiras.
Muitos acadêmicos preferem estudar e exaltar o mais célebre livro de prosa de Leminski, Catatau (de 1975), do que sua poesia. A obra é rebuscada, ao contrário de seus versos, curtos e diretos. Em setembro, será lançada a revisão crítica de Catatau, que virá com glossário explicativo e apresentação de Décio Pignatari, que fazia parte do pilar da poesia concretista, ao lado de Augusto e Haroldo de Campos, todos grandes amigos de Leminski. Ele é um dos que separam Catatau de suas poesias:
- Não é que sua poesia seja menor, ele levou oito anos para fazer Catatau e não suportaria passar outros oito anos da mesma forma. Então usou sua habilidade para fazer uma poesia que visava o grande público, assim como seu trabalho na música. Mas, antes, fez uma das prosas mais interessantes da literatura brasileira da metade do século passado.
Leyla Perrone discorda da diferenciação:
- A idéia do livro é absolutamente genial, mas seu estilo de poemas breves também deve ser valorizado, porque necessita de um poder de síntese enorme. Pensam que quem escreve coisa curta é porque ainda não escreveu coisa longa. Quando perguntavam para o (contista) Dalton Trevisan quando ele iria escrever um romance, ele respondia que seu ideal era o hai-kai.

*OBS.: matéria originalmente publicada no Jornal do Brasil, Caderno B, 12/08/2004

salve a serendipty!!

 

                             occhi bleu

O semiólogo italiano Umberto Eco afirmou certa feita que o livro, ´depois de ser inventado, vai-nos acompanhar por muito tempo´. Penso, entretanto, que essa companhia será para sempre, pois, assim como a televisão não fez desaparecer o rádio, nem o cinema impediu que o teatro continuasse a ser arte tão antiga quanto admirada, a cultura digital não eliminará o livro. À medida que se prestigia, nas últimas décadas, a educação - algo fundamental para elevar a condição de vida do nosso povo e promover o correto e justo processo de desenvolvimento do País -, abre-se espaço, ao lado da cultura digital, para a continuada difusão da cultura letrada e para o aparecimento de pensadores, filósofos, cientistas e poetas, indispensáveis para que brotem novos leitores e escritores.

MARCO MACIEL¹

* Senador e membro da Academia Brasileira de Letras

¹rs... sim! Ele não é só um político esquisito, magro e careca.