quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Faz tempo!!

Mas ainda estasmo por aqui.
Infelizmente, por probleminhas técnicos, as postagens andam devagar quase parando. Mas em breve voltarão!

So sorry, guys...

Abraço, e paciência... que é a alma do negócio de educar.


terça-feira, 15 de junho de 2010

Blog de trabalho

Olá!
Acessem meu blog de trabalho, ok? Comentem e assinem o guests. Bjão!


www.inclusoeuinclusovc.blogspot.com

domingo, 30 de maio de 2010

A Culpa É do Samba (Disney) de "Tempo de Melodia" 1948

The Aracuan

Aurora Miranda - Quindins de yaya

Minha infância...

foi muito boa. nessa época eu assistia desenho de verdade, não essa porcariada de luta e palavreado hostil e violento que passa hoje na tv aberta e fechada(junto com o outro 1% de coisa boa, claro)... assisti muito jambo e ruivão, pantera cor-de-rosa, corrida maluca, muzzarelas e tantos outros que só de lembrar sinto uma saudade tão grande... bom, então uma amiga me enviou um link:


http://www.almacarioca.com.br/quindins.html

nossa, me emocionei mesmo. já sou uma manteiga normalmente, vendo esses desenhos então, vixi...

dêem uma olhada. vale a pena, ainda mais se vcs são da década de 70, just like me.

alma carioca, quindins de ya-ya... vcs não fazem idéia...


segunda-feira, 17 de maio de 2010

Dio

Ronnie James Dio, vocalista de heavy metal que substituiu Ozzy Osbourne no Black Sabbath, morreu no domingo, cinco meses depois de ser diagnosticado com câncer de estômago.Ele tinha 67 anos.

O roqueiro, descendente de italianos e norte-americanos de New Hampshire e nascido com o nome de Ronald James Padavona, também liderou sua própria banda, Dio, cuja música "Holy Diver", de 1983, marcou as rádios do rock clássico.

Ele também ajudou a popularizar o gesto feito com as mãos do "chifres de diabo", símbolo do heavy metal.

Dio conquistou sucesso inicialmente em 1975 ao integrar o grupo Rainbow, liderado pelo ex-guitarrista do Deep Purple, Ritchie Blackmore, e entrou para o Black Sabbath, expoentes do heavy metal, depois que Osbourne foi expulso em 1979.



tsc.


domingo, 2 de maio de 2010

Vinícius, sometimes - sucks!!!

meu queridíssimo amigo-irmão Iggy, mon ami dans tout les heures... que foi aquilo no teu blog??! rssssssss

ainda bem que eu sei quem vc é e do que q vc é feito, senão ia ficar pasma... porém, como sei que vc é fã de carteirinha da viniciusbimtoquinhobertolândia, aqui vai meu favorito do franksdaltein trevisan, o velho doidão da 13 de maio que eu adoro. (em represália literal ao teu vinícius-belomaníaco-fundamental.



Receita de Curitibana


O poeta bem me perdoe
beleza não é fundamental
começa que muito feia
mulher nenhuma é foi será
fundamental mesmo é toda mulherinha
ó filhas de Curitiba
a primeira a do meio a última
quanto mais uma falsa feiosa
o abraço mais apertado o beijinho mais quente
tua fórmula contada na medida pesada não de mulher
sim deusa impossível
de tantas complexo de inferioridade
o cruel inventário de vergonhas defeitos culpas
um basta à discriminação
deliras poeta as muitas letras te fazem delirar
nua e louca nos teus braços
cada tripa um coração latindo de amor
qual é me diga a mulher feia
tudo bem com o rostinho de pássaro lírio nuvem
seja nariiz curto comprido reto papagaial
na diferença um novo encanto
pouco vale o corpo magriço da rosa de anorexia
se é a flor do enjôo tédio não me toque
abre os teus braços aos fino feixe de ossos
mais ainda a essas babilônias de jardins suspensos
pirâmides de broinhas mimosas em marcha
pororocas de muitas águas com peixinhos vermelhos
cada curva prega dobra a mãe de todas as batalhas
como pode ó cara
qualquer mulherinha sem exceção
um certo não sei que particular original
única entre todas
um par de seios já viu um par de tudo
não só os dotes físicos que tal as prendas morais
sem falar das muito secretas
santas e pecadoras
megeras e mártires
escravas e domadoras furiosas de chocotinho
ai Senhor chicote e botinha preta
viva o seinho na metade do limão-galego
mal abarca um deles nas tuas mãos cheias
sem desfazer dos mamelões colossos
mal abarca um deles nas tuas mãos cheias
ganha com sorte uma gotinha de puro deleite
o que conta no olho grande redondo pequeno rasgado
é a lágrima fácil do delírio de espuma
alta baixa gorda magra loira morena
ninfeta coroa velhinha santíssima
amá-las a todas é o que te seduz
palmas à diáfana bailarina
bem mais aos teus passos nas nuvens da volúpia
não o ventre mas a dança do ventre
de que te servem as ricas saboneteiras
sem o chupão de fogo na nuca
nada de lindeza enjoadinha estéril narcisista
antes a mulher completa
àrvore farfalhante ninho de passariho muita fruta
bandinha com clarins e bandeiras
cisne de asas abertas suspenso sobre a água
altar de sarças ardentes
ela a sereia perneta você o canto forte
menos um antebraço uma orelha um pré-molar
que diferença faz
melhor combateremos de luz apagada
uma de tuas mãos presa na gurada da cama
eis a verdade única meu poeta
sabido que muito feia
mulher nenhuma é foi será
salva salve a eterna mulherinha
ó filha de Curitiba
morrendo de tanto beijo a cada hora na gritaria da paixão
gatinha crucificada nos cravos da luxúria
jardim de flores carnívoras
cada tripa um coração latindo de amor
nua e louca nos teus braços
me diga é feia essa mulher

(Dalton Trevisan. "Dinorá", 1994.)

in

Tomando ácido diariamente!

O Informe de Brodie é aberto com um dos mais memoráveis relatos de Borges -A Intrusa. A história foi desgraçadamente vilipendiada num filme de Carlos Hugo Christensen que o Canal Brasil insiste em reprisar.

É um conto de cinco páginas, a história de dois irmãos: "Escrevo-a agora porque nela se cifra, se não me engano, um breve e trágico reflexo da índole dos antigos suburbanos das margens", narra Borges. Os irmãos protegem-se e à sua casa. Um deles leva para a casa protegida, um dia, uma mulher. Com tempo, dividem-na. Insinua-se o desentendimento. O título revela o desfecho.

Não é uma história de sexo ou de amor, mas da "afirmação de uma lealdade que não se detém ante nenhum preço" como diz Beatriz Sarlo, da Universidade de Buenos Aires, na introdução. Ou: "Um aprendizado realizado sobre a base da deslealdade àqueles valores que se consideravam constitutivos de um universo ideológico e moral."

Ainda avalia Beatriz Sarlo que Borges, naquele momento em que se aproximava do encerramento da obra, reiterava "sua moral narrativa sustentada na independência da ficção a respeito de seu espaço histórico". Nada é mais exemplar dessa independência do que a frase inicial do primeiro parágrafo de A Intrusa: "Dizem (o que é improvável)..." (aliás, adoro esse tipo de estilo na literatura de Borges... ô delícia das palavras.)

Existe, no entender de Sarlo e de outros estudiosos, desde o início, na obra de Borges, uma pergunta essencial sobre a possibilidade de escrever literatura na Argentina. "A primeira coisa que Borges faz é rearmar uma linha cultural para esse lugar excêntrico que é seu país", descreve a estudiosa. "Borges reinventa um passado e organiza uma tradição literária argentina em operações que são contemporâneas a sua leitura das literaturas estrangeiras."

E ainda, numa conclusão brilhante: "Da periferia (das literaturas estrangeiras), Borges consegue que sua literatura se relacione de maneira não dependente com a literatura ocidental. Faz da margem uma estética."

É assim, dessa "periferia", que Borges reescreve , à sua maneira, as Viagens de Gulliver, de Swift, no conto que dá nome ao livro - entretanto, já leram Pierre Mnard reescrevendo o Quixote? ou como, numa existência eterna, qualquer um, obrigatoriamente, reescreveria o Quixote, mas criticamente, no jogo de ambigüidades e enigmas, ironias e perspectivas instáveis como nunca realizado por qualquer outro autor.

Enfim... como já postei certa vez... Borges é um ácido.

eu adoro ler qqr coisa dele.

quandos as portas se fecham...


... é bom estar do lado de dentro? é bom estar do lado de fora? na realidade o ideal é que elas estejam sempre abertas, pra que a gente possa escolher entre entrar... ou sair! bom, como no desabafo da postagem anterior, as portas se fecharam para mim em determinado momento. me frustrei muito! senti que os ideais mais firmes que eu ainda tenho haviam sido roubados em plena luz do dia... e foi triste constatar que fui roubada por minhas próprias escolhas. então... eu escolhi. encore une fois.

achei que havia errado.

mas não é que eu escolhi certo? naquela velha história de que quando uma porta de fecha, várias outras se abrem, uma das novas portas se abrindo foi novamente no caminho da inclusão. e cá estou again.

e se havia quase 2 anos que estava trabalhando com ensino especial, vão se completar os 2 realmente. não mais com a síndrome de down, mas agora com a deficiência auditiva. caminho totalmente novo para mim, mas que agarrei! da forma que consegui.

fiquei tentada pelo desconhecido. to com um puta medão, mas a vontade de conhecer isso tudo é bem maior.

cabeça a mil.

é, professoras e professores... pq somos assim?

pq ainda escolhem o magistério pessoas que não conseguem ensinar nem um eucalipto??

pq não ficam em suas casas observando apenas, sem causar danos..?


hoje participei de um encontro regional de surdos. era o 10º. sabem quantas professoras da rede pública estavam lá? uma. afinal, não davam diploma para carga horária...

tá tudo errado. tudo errado.

e vou aproveitar pra enfiar aquele monte de chavões old school que dizem: "devagar, se vai ao longe"... ou "a união faz a força"... ou ainda "é dando que se recebe"... e também "se te esbofetearem, dê a outra face..." ah, esse então... é old old old school. é bíblico. aliás, falando em bíblia, o encontro foi na igreja são josé. lá tem pastoral dos surdos, com missa e tudo mais.

e não teve nada de carola, foi tudo muito bacana. coisa de Deus mesmo, pessoas de BOA vontade, passando informações COM boa vontade. é maravilhoso isso...

particularmente penso que deveria haver um representante de cada escola do município em que exista um aluno surdo. mas... eu penso isso.

Fato é que: I'm back. Muito feliz.

Meu aluno é um *xuxu*! E espero realmente poder ajudá-lo, da forma que puder e certamente, vou dar o melhor de mim. pq eu consigo isso. eu amo o que faço.

em tempo... mais um old school:
"faz o que gostas e deixa de trabalhar!" (Confúcio)


sábado, 6 de março de 2010

in-utilidades filosóficas...

Li há muito tempo numa revista de cultura inútil que o último presente que o galã Ben Afflek deu para Jennifer López foi uma tábua de privada - cravejada de pérolas, safiras, rubis e diamantes - no valor de 105 mil dólares. Não... parece que não havia esmeraldas nesta tábua.
A Tábua de Esmeralda foi um manuscrito muito difundido na Europa, no final da Idade Média, que logo se tornou programa e método dos alquimistas. Encerrava "o Segredo da Criação dos Seres e a Ciência das Causas de todas as Coisas".
Texto danado de obscuro, condensava uma sabedoria sagrada somente revelada aos grandes iniciados e seu trecho mais conhecido afirmava o que veio a ser o princípio fundamental da Alquimia: "o que está em cima é como o que está embaixo". Baseados nesta revelação, os alquimistas faziam em seu laboratório experiências de transmutação de metais ordinários em ouro para tentar desvendar o processo que poderia levar o homem comum, o "vil metal", a se transformar no mais puro deles. O resultado desta opera magna seria a Pedra Filosofal, a matéria pura primordial, o "ouro filosófico" e princípio analógico da essência divina, pois se "o que está em cima é como o que está em baixo", o que o céu guarda a terra também possui.
Os homens já se preocuparam com essas coisas.
A Tábua de Esmeralda era atribuída ao egípcio Hermes Trismegisto - o três vezes grande, o três vezes sábio, o três vezes mago - e a palavra "hermético" começou a ser usada para se referir a ele. O texto teria sido gravado pelo próprio deus numa grande esmeralda e só muito mais tarde transcrito num papiro e traduzido para o latim, para a divulgação na Europa.
A esmeralda era uma pedra sagrada. Utilizada para a regeneração e a preservação, conferia poderes mágicos e diz a tradição que o próprio Graal foi esculpido numa esmeralda. Como era atribuída a Hermes, o mensageiro dos deuses, participava dos dois mundos, o humano e o divino, e sempre foi considerada um poderoso talismã. Pedra da cura e da clarividência, seu portador adquiria domínio sobre o Bem e o Mal e não é de admirar que fosse uma das pedras reservada aos Papas, simbolizando a Esperança.
As três virtudes teologais são Fé, Esperança e Caridade, pilares do Cristianismo. Mas há um dito gnóstico afirmando que a Fé está morta, a Caridade em extinção e só nos resta a Esperança.
Que a Caridade não está bem das pernas, basta olhar em torno para concordar. A Fé resistiu um pouco mais. Fé é uma certeza que tem por base a autoridade de uma revelação recebida por alguém. É um postulado metafísico. Se esta proposição ou este alguém comportam uma falha, a Fé desmorona. Em tempos que se especializam em derrubar metafísicas e profetas, não é de admirar que a Fé tenha morrido.
Já a Esperança está além de toda certeza racional, porque persiste mesmo depois de esgotados os argumentos. É mais do que uma espera teimosa, como seu nome sugere, é confiança no milagre. É a mais ingênua das virtudes porque nenhuma filosofia a sustenta: é apenas ato de amor. A única que nos resta porque é "a última que morre".
Entre a Tábua de Esmeralda e a tábua do Ben Affleck, a humanidade percorreu longo caminho mas talvez continue a mesma: ainda não descobriu sua "pedra filosofal".
No entanto, as pessoas amam e só o amor as salvará. Apesar de algumas dádivas equivocadas, já que as oferendas ao amor podem variar do Taj Mahal a uma tábua de privada, sinal dos tempos. Mas para qualquer amante a amada é uma rainha e, desde Inês de Castro, sabemos que o desejo recôndito de quem ama é ver a amada no trono.

terça-feira, 2 de março de 2010

hoje

pensei no tempo que eu tinha
e eu escrevia sobre tanta coisa
e sobre tudo...


acabei deixando
uma pausa tomar conta
das minhas linhas...

risco
risco
e pausa.
e nada.

será que larguei minha inspiração
na última carteira de maubôro?

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

obsessão

A Amélia tinha uma neurose obsessiva-compulsiva. Quadro típico, de livro. O marido - um poço de paciência - acompanhava-a sempre à consulta. Ela sentava-se à minha frente e ficava, inexpressiva, a chupar a própria lingua, enquanto o marido me fazia as queixas habituais. Que ela dormia mal, que não tinha vontade de fazer nada em casa, que se recusava a sair, que raramente falava, que passava os dias a chupar a lingua.
Já se haviam tentado todos os tipos de terapêuticas medicamentosas, já havia consultado diversos psiquiatras, já tinha estado internada em algumas clínicas. Sem grandes resultados.
A terapia comportamental fora tentada durante algum tempo e a Amélia conseguiu deixar de chupar na língua e passou a chuchar num lenço. Mas não podia ser um lenço qualquer. Os com rendinhas arranhavam-lhe a língua, os de seda não empapavam a saliva em condições e os de papel estavam fora de questão por razões óbvias. Ela não tinha iniciativa nem para levar o comer à boca, quanto mais para passar o dia a cuspir pedacinhos de papel. Tinham que ser lenços de popeline, bem resistentes e com capacidade para alguns litros de cuspo. O marido deve-lhe ter comprado dezenas de lenços, mas a obsessão da Amélia dava conta deles todos. Acabou por regressar à língua. Assim como assim, a língua não se gasta, está sempre limpa e sempre à mão (neste caso, sempre à boca).
Talvez a falta de afecto na infância a tivesse feito regredir à fase oral. E como o uso da chucha seria socialmente reprovável, escolhera a língua como objecto da sua neurose.
Tudo explicado?... Talvez não...
De um momento para o outro, o marido da Amélia entra em insuficiência renal aguda e morre.
Quando soube da notícia, pensei: “coitada da Amélia!... E agora, o que vai ser dela?... Vai piorar, de certeza...”
Mentira.
Pouco tempo depois da morte do marido, lá apareceu a Amélia, toda de preto e - espanto! - não chupava na língua!
Com uma desenvoltura que nunca lhe vira, contou-me que, com a morte do marido, decidira que tinha que fazer alguma coisa por ela própria, já que agora não tinha ninguém que cuidasse dela.
E a língua?...
Já não queria saber da língua para nada. Arranjara um substituto bem mais produtivo: dedicara-se ao crochet. Passava os dias sentada no sofá da sala, televisão ligada, fazendo crochet sem parar, compulsivamente, obsessivamente. E ele eram toalhas de mesa, ele eram naperons, ele eram colchas. E até conseguira arranjar uma senhora que tinha uma capelista e que lhe vendia os seus trabalhos. E como prova dos seus dotes, ofereceu-me duas pegas para a cozinha, todas em crochet multicolor.
E assim se passaram mais alguns anos, com a Amélia aguentando-se com um único antidepressivo e um tranquilizante e montanhas de novelos Ancora.
Até que certo dia me apareceu muito agitada, exibindo uma ferida muito feia no bordo da língua.
“O que se passou, Amélia?” - perguntei - “Não me diga que voltou a chupar na língua?...”
Foi então que ela me contou o drama da noite anterior. Como era hábito, sentou-se no sofá, em frente ao televisor e atirou-se freneticamente ao crochet. As horas foram passando e aproximava-se a meia noite quando a Amélia acabou um novelo. Dirigiu-se à cestinha de costura para se abastecer e - desgraça! - descobriu que se lhe haviam acabado as munições!... Não tinha mais novelos!...
Entrou em pânico, como se compreende e, apesar do tranquilizante, não conseguiu pregar olho, tendo passado toda a noite a chupar na lingua, até às 9 horas da manhã, quando a capelista abriu as portas e, como um furacão, a Amélia se precipitou lá para dentro, em busca de mais novelos. E naquela noite de insónia e desespero, chupara na lingua com tal denodo e abnegação que arrancara positivamente um pedaço da mesma.
Aqui está uma excelente razão para se começarem a vender novelos Ancora nas farmácias de serviço...

in "Cinquenta Histórias Pouco Clínicas mas Muito Cínicas", 1998

domingo, 21 de fevereiro de 2010

Leitura excelente!!


li quando tinha uns 15 anos, ganhei da minha mãe que na época, era sócia do círculo do livro (que aliás imprimiu a obra com esta sobrecapa aí, da foto. não há o que falar... é preciso ler, para crer...

NO CAMINHO COM MAIAKÓVSKI

Assim como a criança
humildemente afaga
a imagem do herói,
assim me aproximo de ti, Maiakóvski.
Não importa o que me possa acontecer
por andar ombro a ombro
com um poeta soviético.
Lendo teus versos,
aprendi a ter coragem.

Tu sabes,
conheces melhor do que eu
a velha história.
Na primeira noite eles se aproximam
e roubam uma flor
do nosso jardim.
E não dizemos nada.
Na Segunda noite, já não se escondem:
pisam as flores,
matam nosso cão,
e não dizemos nada.
Até que um dia,
o mais frágil deles
entra sozinho em nossa casa,
rouba-nos a luz, e,
conhecendo nosso medo,
arranca-nos a voz da garganta.
E já não podemos dizer nada.

Nos dias que correm
a ninguém é dado
repousar a cabeça
alheia ao terror.
Os humildes baixam a cerviz;
e nós, que não temos pacto algum
com os senhores do mundo,
por temor nos calamos.
No silêncio de meu quarto
a ousadia me afogueia as faces
e eu fantasio um levante;
mas amanhã,
diante do juiz,
talvez meus lábios
calem a verdade
como um foco de germes
capaz de me destruir.

Olho ao redor
e o que vejo
e acabo por repetir
são mentiras.
Mal sabe a criança dizer mãe
e a propaganda lhe destrói a consciência.
A mim, quase me arrastam
pela gola do paletó
à porta do templo
e me pedem que aguarde
até que a Democracia
se digne a aparecer no balcão.
Mas eu sei,
porque não estou amedrontado
a ponto de cegar, que ela tem uma espada
a lhe espetar as costelas
e o riso que nos mostra
é uma tênue cortina
lançada sobre os arsenais.

Vamos ao campo
e não os vemos ao nosso lado,
no plantio.
Mas ao tempo da colheita
lá estão
e acabam por nos roubar
até o último grão de trigo.
Dizem-nos que de nós emana o poder
mas sempre o temos contra nós.
Dizem-nos que é preciso
defender nossos lares
mas se nos rebelamos contra a opressão

é sobre nós que marcham os soldados.

E por temor eu me calo,
por temor aceito a condição
de falso democrata
e rotulo meus gestos
com a palavra liberdade,
procurando, num sorriso,
esconder minha dor
diante de meus superiores.
Mas dentro de mim,
com a potência de um milhão de vozes,
o coração grita - MENTIRA!

Eduardo Alves da Costa

Hilst, one more time!

Vamo brincá de ficá bestando e fazê um cafuné no outro e sonhá que a gente enricô e fomos todos morar nos Alpes Suíços e tamo lá só enchendo a cara e só zoiando? Vamo brincá que o Brasil deu certo e que todo mundo tá mijando a céu aberto, num festival de povão e dotô? Vamo brincá que a peste passô, que o HIV foi bombardeado com beagacês, e que tá todo mundo de novo namorando? Vamo brincá de morrê, porque a gente não morre mais e tamo sentindo saudade até de adoecê? E há escola e comida pra todos e há dentes na boca das gentes e dentes a mais, até nos pentes? E que os humanos não comem mais os animais, e há leões lambendo os pés dos bebês e leoas babás? E que a alma é de uma terceira matéria, uma quântica quimera, e alguém lá no céu descobriu que a gente não vai mais pro beleléu? E que não há mais carros, só asas e barcos, e que a poesia viceja e grassa como grama (como diz o abade), e é porreta ser poeta no Planeta? Vamo brincá

de teta

de azul

de berimbau

de doutora em letras?

E de luar? Que é aquilo de vestir um véu todo irisado e rodar, rodar...

Vamo brincá de pinel? Que é isso de ficá loco e cortá a garganta dos otro?

Vamo brincá de ninho? E de poesia de amor?

nave

ave

moinho

e tudo mais serei

para que seja leve

meu passo

em vosso caminho.*

Vamo brincá de autista? Que é isso de se fechá no mundão de gente e nunca mais ser cronista? Bom-dia, leitor. Tô brincando de ilha.



* Trovas de muito amor para um amado senhor - SP: Anhambi, 1959.

Hilda Hilst