sábado, 17 de janeiro de 2009

13/07/06



Eu fui casada com um empacado. Por isso, hoje pela manhã enquanto lia alguns blogs, visitava orkuts de amigos, lembrei dessa fase desgraçada da minha vida, da qual a única felicidade que trago comigo é uma filha linda e feliz, e a certeza de que nunca mais chegarei sequer a milímetros de conviver novamente como uma pessoa como aquela. A felicidade a dois existe sim, e ela chegou para mim por volta de 2006. Este texto é uma espécie de correlação direta... ;)
Pois o que eu vivi me fez pensar situação de nos vermos imobilizados por muitos dias, meses, como se fosse por uma doença, um acidente ou qualquer outro motivo limitante. Isso só de pensar já dá uma sensação ruim. Há tantas coisas que ainda queremos fazer, experimentar, descobrir... Ainda há tanto a ser resolvido, melhorado, mudado. Tanto a crescer, a realizar, a expressar, a conquistar, a viver. Só de nos imaginarmos presos a uma cama, ou num cativeiro, que é um exemplo bem atual, já avaliamos o quanto deve ser triste esse sentimento de "não poder". É mais ou menos assim que acontece quando estamos amarrados a uma pessoa que não é o que pensávamos.

Pois é, porque sabemos que é bem mais comum nos sensibilizarmos por essas situações que aparentemente vêm "de fora", e pegam as pessoas desprevenidas. Não estamos muito acostumados a prestar atenção nos fatos que ocorrem dentro de nós e, quando muito, pensamos vez ou outra neles, "achamos" alguma coisa a respeito e fim de papo - nem percebemos nada. E pensamos assim: ah, isso muda... vão passar os anos, e eu acostumo... o catzo!! Aí é que a gente erra!! A dois não deveria existir o *acostumar*, o *tolerar*...porra!! Amor é incondicional. Eu te amo pq eu te amo! Do jeito que vc é! Mesmo que vc acorde com bafo e baba, mesmo que vc acorde despenteada e de mau-humor!! Pq eu amo o que há em vc que há em mim!! É assim que tem que ser! Compreendem?

Você consideraria a possibilidade de estar mantendo cativa alguma parte sua, algum aspecto do seu "eu" original? "Manter cativa" até parece lírico. Tornemos isso mais pé-no-chão: você acredita que pode haver algum pedaço da sua originalidade (do seu modo original de ser) esquecido a ferros num calabouço, julgado e condenado por conduta não adequada? Ou penando feito criança maltratada, amarrado ao pé da mesa pra não fazer mais artes? Ou, ainda, metido numa camisa-de-força, considerado perigoso, muito louco?

Caramba! Como assim? É claro que não! ...Será?!!

Que nada... por que faríamos isso conosco?

Pois fazemos. Num belo dia 18 de dezembro, dei de cara com um daqueles "acidentes de percurso" que nos machucam profundamente; a dor é forte, quase insuportável. Como não havia desenvolvido ainda a capacidade de compreendê-la e de aprender com ela, tive que passar 8 anos tentando ver onde eu estava errando, e na verdade o erro era eu estar ali, com uma pessoa que nunca deveria estar! O tempo passou e tomei as providências na tentativa de afastá-la para sempre, e decretei o "nunca mais".

A situação em que eu estive era absurda! Não faz muita diferença se nos prendemos, amarramos, por acreditar que somos perigosos e precisamos de castigo, ou se nos escondemos numa redoma, achando que assim nos protegemos dos outros, que são perigosos - de uma ou de outra forma, estamos imobilizados naquela área da vida - não podemos viver. E olha que em se tratando de área afetiva isso acontece bem mais do que imaginamos.

É mais ou menos assim:
Você já brincou de estátua? Então... É como se a brincadeira já tivesse acabado, todo mundo já tivesse ido embora e nós permanecêssemos ali, imóveis, entorpecidos. Passam-se meses, anos (podem passar várias encarnações, se é que você acredita), e não saímos do lugar. As pessoas a nossa volta nos olham e as que nos conhecem ficam intrigadas com o motivo que nos leva a permanecer naquilo e não tentar pular fora!! Mas pra algumas pessoas algo muda. Pra mim, mudou e um par de guampas acelerou a minha tomada de atitude, que precisava de um motivo (se é que os que eu tinha já não eram o bastante!)

A gente agüenta!
Mas, uma hora, isso começa a chatear. É a bendita vontade da vida plena! Até porque, também, outras áreas da vida começam a emperrar e, ao questionarmos sinceramente o nosso coração, descobrimos que há um forte interesse sendo negado. Percebemos que estamos querendo um bom relacionamento afetivo. Tentamos daqui, buscamos dali, e nada! Se antes aparecia alguma coisa boa, não durava... e a que foi durar foi logo a merda de vida a dois que eu tive!! Não acontece nada! Descobrimos-nos empacados...

Puxa! Qual será o motivo? Vai ver que é "trabalho" feito. Alguém "nos amarrou"! Ah, pode apostar nisso! E deve ter sido um trabalho muito bem feito, por sinal. E, para variar, foi um trabalho que eu ajudei a fazer! Fui eu que disse sim!!

Segundo a Metafísica atual, quando alguma coisa começa a incomodar é porque é chegada a hora da mudança. Se já passamos do incômodo à vontade de mudar e nada acontece, é que estamos sabotando a entrada do novo em nossas vidas. E isso devido ao apego, à culpa e ao medo. Aquilo que já conhecemos, ainda que não seja bom como realização pessoal, costuma dar-nos uma falsa idéia de segurança ou proteção - é como se já soubéssemos o quanto de prazer e o quanto de dor podemos experimentar naquela situação, ou, em outras palavras, é como se sentíssemos que até ali podemos agüentar, controlar, porque as coisas são repetitivas, familiares; mas, dali pra frente, já não temos nenhuma certeza...

Assim nos apegamos às situações, ou às pessoas que fazem parte delas, e rejeitamos qualquer novidade que poderia significar riscos, conflitos, reformulações...

Tive medo. Medo da dor, medo de não agüentar a dor... Medo de me descontrolar (pela dor ou pelo prazer), medo de me deixar dominar... É aquele medo de que nos façam de bobos, medo do abandono, do desprezo... Medo de nos entregarmos e de "perdermos o chão", no fim.

Pelo medo do fim, preferimos nem começar... Pelo medo de perder, resolvemos nem ter... Temos medo daquilo que poderemos fazer conosco, se nos sentirmos culpados novamente: vamos dizer que tenhamos tentado, nos arriscado, e que as coisas não tenham tido um final feliz. Aí nos culpamos, achando que deveríamos ter sido mais cautelosos, menos confiantes, mais "espertos", "diferentes", mais contidos, ou menos isto e mais aquilo... Nos socamos, nos arrasamos energeticamente, até nos sentirmos errados, incompetentes, inadequados - humilhados e ressentidos.

Incompetentes, inadequados - humilhados e ressentidos.

Ô sensação foda!

Temos medo, até, de descobrirmos, lá na frente, que não era isso o que queríamos - medo de perder a liberdade, medo do apego do outro.

Fica claro que a base de todo esse sofrimento - incluindo o sofrimento de não viver plenamente aquilo que se quer - está na falta de confiança em nós mesmos, que reflete a falta de confiança na vida. Minimizamos a nossa capacidade de confiar, baseados naquilo que sentimos, e apostamos tudo nos nossos julgamentos. Só que o julgamento é um processo mental que procura o certo e o errado; que condena, que pune, que vinga, tudo racionalmente.
Não há vez para o sentimento.

Ao querermos julgar, perdemos as referências da aceitação, da tolerância, da confiança, do respeito ao direito e à originalidade (com relação aos outros e a nós mesmos) e acabamos praticando a depreciação e a desvalorização. Como, para a Metafísica atual, tudo funciona por meio de forças que atraem e repelem por sintonia, onde há julgamento não há a possibilidade de prêmios (aquelas coisas boas que estamos desejando há tanto tempo).

Passou o tempo. Depois da desgraça veio a esperança. E desde 2006 meus dias são felizes! Todos eles!

Hoje vivo a vida susse susse. E tenho amigos que me acompanham.
O homem que vive ao meu lado sabe o que passei e sabe pelo que passou. Sabemos o que queremos para nossas vidas.

O que tenho a dizer sobre os sentimentos? Eles nos sustentam. Seja da forma que for. Antes de amar alguém, é preciso que nos conheçamos e que o principal amor seja aquele voltado pra nós!

Tenho amigos felizes.
Tenho amigos que sei, por vivência, que não deveriam estar com quem estão, pois o caminho que terão de volta é o mesmo pelo que passei... o que me consola é que, talvez eles – assim como eu, encontrem o que lhes faltava, encontrem quem lhes faltava.
Acredito sim que nossa porcentagem esquecida no pote dos deuses está em outra pessoa, e que ou a gente as encontra ou elas a nós.

Eu encontrei a minha dia 13/07/06!


avmb... ;)

4 comentários:

Eliane disse...

Oi Carmem, tudo bem?
Adorei o seu desabafo...
É clichê isso que vou dizer, mas, me "caiu como uma luva".
Perdi o medo de mudar e o futuro só pertence a mim...rsrsrs
Beijos.

Merielle Dias disse...

Meu... que perfeito... um dia a coragem chega... e a mudança é sublime!! Só deslocados no tempo é que temos a plena visão da nossa atmosfera emocional... você traduziu muito bem...

Anônimo disse...

Que perfeito mesmo...
O medo de perder, o apego, a solidão, a "falsa idéia de segurança ou proteção"... ah, como esses sentimentos nos deixam paralizadas diante de um relacionamento em que não existe mais amor.
Parabéns Carminha, vc faz mágica com as palavras!
Beijão :)

Unknown disse...

Estou impressionado pela clareza de suas palavras Carmem, pela sobriedade dos sentimentos. Realmente, às vezes nos deixamos levar pela rotina, pelo maldito comodismo, pelo sorriso amarelado que teima em aparecer... Caminhos tortuosos em que nos colocamos e insistimos em seguir. Chega o momento em que, ou nos libertamos dos grilhões - como você o fez -, ou nos bestializamos... Parabéns pelo despertar!!!