segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

sem pensar!

Notei que você se parecia com alguém que eu amei muito, e por isso uma idéia irresistível entrou-saiu de meu cérebro doente. Realizei-a imediatamente. Imaginei que eram os primeiros tempos de amor, e meu amor ia, de vez em quando, visitar-me às escondidas. Eram dias de festa para o meu quarto. Chegavam flores, acendia-se o fogo alegremente. Era tudo nupcialmente enfeitado para a recepção do meu amor. Muitas vezes eu ficava olhando para ele, sentada no chão, próxima, durante as horas silenciosas em que nossas mentes se falavam. Via-o como a um Merlin - ele, a transformar em paraíso o pequeno espaço solitário em que tantas vezes eu chorara. Estávamos ali, no meio de todos aqueles livros, de todas aquelas frases não ditas espalhadas, de todos aqueles móveis que mobiliavam minha alma.
Mas então eu o perdi. Depois disso a lembrança de meu amor não cessavam de me perseguir; tiravam-me o sono. Meus livros, minhas paredes, me falavam dele. Eu não podia suportá-los. Minha cama expulsava-me para a rua. Eu tinha medo quando não chorava. Então me tornei um escombro.
Mas os dias passam...
Nos escombros do meu eu –eu disse o que restava, mas você quis e foi pra lá que levei você.
Lembra..? Pedi-lhe que se sentasse de costas voltadas para mim. Pedi que ficasse em silêncio. Depois, arrumei o quarto, como outrora para meu amor. Coloquei as coisas no mesmo lugar em que me lembrava de terem estado. Geralmente, em todas as nossas idéias de felicidade, há uma certa recordação que domina: um dia, uma hora que superou todas as outras... Depois de tudo arrumado, acendi bem o fogo e, sentando-me sobre o calcanhares, começou a enervar-me um desespero sem limites. Desci até o fundo do meu coração, para senti-lo torcer-se, comprimir-se. Lembrei de uma música e murmurei sua melodia...

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