segunda-feira, 9 de julho de 2007

tecidos


crio em pensamento tecidos, e minhas mãos são, elas mesmas tecedoras de ficção pura. Têm essa vontade de morte de quebrar o pacto selado entre as palavras e as coisas, para a maior glória da forma pura do que testemunha todo o meu “Je t’aime!...je devien fou, pour toi, je suis perdue...". Por isso agora invoco a forma da questão a que Sartre não respondeu: "Para que serve a literatura?" A literatura pertence ao mundo do sonho, da crença, da magia, da barbárie, ao que é o mundo do coração entregue, da Vênus, de Safo, de nossos sonhos, de nós a nós mesmos. O que escrevo tem alvo certo. São antes para mim, mas há você. E os verbos que declino trazem escrevente suspeita do sentido, da impostura da língua. Mas a escrita ao mesmo que une, separa o seu autor do seu horizonte de destinação. A deriva que sofrem os textos (meu toque), a doença da interpretação (gostas do que lhe escrevo..? saberia dizer-me quais os 32 sentidos das palavras cor de carne que por ti elaboro?) Não saberia. Palavras simples com as quais em vão tento tocar-te... mas não se toca com versos, e a crítica do estilo dá à retórica uma prioridade adequada sobre a lógica... isto é, o fato de você gostar do que escrevo, não significa que entenda, mas supõe não-limites... quem dera poder tocar-te o tanto das minhas palavras... Desde você meus textos são órfãos, abandonados! Serão sempre textos literários intranquilos, textos para se perder? Não. Pois são textos pra ti, que reparte comigo um reflexo único.
A proibição das imagens suposta pelas palavras não é a proibição do olhar e o olhar encontra, em si ou em nós mesmos, onde repousar: uma escrita é sempre receita de sonhos, de delírios. E se não fosse a barreira temporal...pudera eu ter o controle das horas, para enviar-te linhas escritas a mão, pois tenho predileção pelo contato das palmas das mãos no papel... como um toque leviano de dedos na face de uma pessoa a quem se deseja.
É que pronunciar o nome é gemer, é arder... esgotar-se. Ouvir a voz do silêncio do beijo é o que sinto ao inclinar meu olhar sobre letras... principalmente as que compõe teu nome. Porque o visível na sua imanência nua e silenciosa parece-se com o deserto... e é insignificante - o coração só não basta para dizer como nele se orientar... pq neste deserto o que vale são as regras de paixão... o que ela vê, tem que ser visto antes pelos olhos da consciência... e assim sentido. Quando os olhos se desapegam da letra simples dos vocábulos e os ouvidos iniciam a escutar a voz que os escande e os interpreta, o mundo torna-se delícia e loucura.
Aí então lê-se o subjetivo... o que está ali não estando. Pq é assim que gosto, assim proclamo o que sinto. Ainda que em letras simples, o texto arde. E talvez seja pq todo o meu sentimento está em repousar a cabeça no ombro de uma pessoa de quem não vejo o rosto.
Sou dessa maneira, a dona de um enigma. E por este enigma busco as cintilações do mundo. À procura, não de beleza humana, mas de ouvido atento onde ressoe textualidade submersa, de pele tocável que queime de sentimentos simples... avmb.

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