domingo, 20 de abril de 2008

Tá na moda!! Again...

Pq algumas pessoas acham que usar roupa preta, cabelos longos prtíssimos, unhas longas igualmente pretas, passar pancake cor-fantasma e andar feito um zumbi notívago é ser bruxa??? ontem deparei com uma criatura desse aspecto, que no meio do meu silêncio, encravou hora e meia infinitas* sobre o que é a wicca... (oh, mother nature... can ya help me???)

pra mim, não passa de uma pseudo-nada! ou seja, uma mistureba de gótica-dark-emo-hype-modernete-que-acha-que-ser-bruxa-é-decorar-palavrinhas-sobre-a-wicca.


PQ??PQ ESTES SERES ME CERCAM??? EU ATRAIO IGNORANTES MALUCOS??

voilà!


Quando falamos do catolicismo, principalmente quando essa analise da alguma importância ao contexto histórico, costumamos dar certa ênfase no fato de a igreja católica ter realizado um sincretismo entre seus santos e os deuses autóctones das regiões por onde eles se estabeleciam. Brigith/Santa Brigida é um exemplo clássico e surrado. Aliás, essa pratica, olhando mais a fundo e sem preconceitos de classe ;-) foi comum a todos os povos, a citar os romanos na gália, outro exemplinho classico.
Bom, esses dias, tomando banho, já que, além do horário de dormir (imposto pelo relógio coletivo, não pelo meu), esse é um dos poucos momentos que meu cérebro começa a funcionar. Não pensem que isso é motivado por questões “não-cristãs”, apenas por que são horas que não me encontro teoricamente pensando em nada, cabeça vazia, oficina do diabo, como diz o ditado. Bem, mas terminando a conversa fiada, estava eu pensando sobre o sincretismo religioso promovido pela igreja catolica, através dos seus senhores de engenho e outros senhores da nossa sociedade colonial, entre os deuses africanos, ou orixás respeitando o termo original, e os santos sem tempero da religião oficial. Essa mistureba toda, que objetivava "amansar" os conquistados, acabou virando o que se convem chamar hoje de Umbanda. Claro que nessa salada mista entraram outros tipos de entidades, índios, prostitutas desencarnadas, e o resto.
Bom, a conclusão simples, não simplista, é que eles alcançaram seu objetivo.
Talvez até mais do que esperavam, a mistureba que fizeram, gerou outra religião, a umbanda, ao contrário do Candomblé, não é politeista, nem pagã. Reconhece apenas um deus, o resto é entidade, isso é atestado por qualquer umbandista. Freqüentadores esporádicos também podem dar seu testemunho.

No Candomblé de nossa terra, o resultado foi semelhante, mesmo as casas mais antigas, com raras excessões, convivem hoje com visões não muito tradicionais, falando-se do paganismo africano de 500 anos atrás. Não há um seguidor do candomblé que não reconheça que em um santo catolico, uma variação de seu orixá. Claro que isso pode parecer simplista, mas como eu disse, é simples, portanto diferente. Claro que existem aqueles que não reconhecem ogun em são jorge... Mas com certeza vêem Iemanjá na virgem maria, ou oxumare em alguma santidade da santa madre igreja.
Mas parando a introdução, hoje lendo uns artigos, parei pra pensar na Wicca.
Analisando as crenças wiccanas, os dogmas, e principalmente as falas desse povo todo que aqui entre nós está, me fiz a pergunta: os católicos venceram?

Detestável pensar isso, mas sigamos adiante.

TODAS as religiões pagãs, européias, norte-americanas, latino americanas, chinesas, japonesas... Eram religiões politeístas. Alias o politeísmo é um dos conceitos mais importantes para se aceitar uma religião como pagã. Pelo menos no meu ponto de vista, e no de outros malucos que ocupam seu tempo com assuntos afins /-)
Nessas religiões, as divindades não eram importantes, mas Únicas. Tudo girava em volta da religião e dos deuses.
Outro aspecto, é que muito se discutia nessas religiões sobre a natureza e origem dos deuses, formas de culto, etc. Podemos dizer que não apenas o culto, mas o estudo da divindade era central. Na Wicca,o divino como um ser externo acabou perdendo peso.
O que ficou, alias, o que se acrescentou, foram as visões, certamente originárias dos movimentos new age, de que todo ser é divino, da divindade imanente, etc. Com isso, certas praticas passaram a ter muito mais valor que uma oração a Hera, Atena, Ix Chel, Tupã, ou Amaterasu. Falo aqui da yoga, meditações (especificamente daqueles modelos orientais), mantras, etc. Não que algumas delas, como os estudos sobre chackras e aura, não sejam importantes, essa importância é atestada em inúmeros escritos dos povos antigos, que sob outros nomes, em certos casos, tinham conhecimento desses assuntos. Mas seja por uma mudança de era como dizem uns, ou apenas por mudança de comportamento sem influencia externa ou astral, os deuses perderam espaço e respeito. Precisamos deixar claro aqui, pra não parecer extremismo e mania de perseguição, que se reconhece que essas praticas não são de origem católica, já que o tema central é esse. Mesmo assim, auxiliaram no processo, graças, inclusive, a certos conceitos arraigados nos "novos-pagãos", como pecado/inferno, que muito podem se assemelhar com o karma/dharma, etc.

Outro aspecto além do que já comentamos, é que a Wicca, produziu um verdadeiro reducionismo divino. Os católicos, quando conquistaram territórios, raciocinando, ligaram os deuses dos povos conquistados a seus santos, unindo ao seu "Deus", a divindade predominante do panteão inimigo. Na Wicca ocorreu algo semelhante. Frequentemente vemos wiccanos dizerem que todos os deuses são apenas um deus, e que todas as deusas são face de apenas uma deusa. Essa crença, obviamente produziu o que se esperava, o final da historia, é que o Deus/Deusa são apenas face de UM só deus. Monoteísmo versão 2.0.

Um problema nesse caso, que muitos usarão como contra-ponto é que todas as religiões politeístas possuíam deuses maiores, regentes, ou seja, uma divindade criadora. Correto, todos os povos possuíam um ser (o uso do termo masculino é de formação apenas) que possuía o papel de criador. Porém, poucas são aquelas em que essa divindade possuía papel tão destacado como no cristianismo e nas religiões monoteistas, entre as quais, acho que podemos colocar a wicca.

Confusão entre o que dissemos anteriormente sobre um papel mais secundário dado pela wicca à divindade? Nenhuma. O que dissemos foi que práticas
sacerdotais não tem na wicca tanta importancia como possuiam nas antigas religiões pagãs. Porém, enquanto única divindade do sistema religioso o Deus/Deusa não deixam de ser importantes. Até porque, caso isso ocorresse, a wicca perderia de vez sua posição entre as religiões. Mas antes de prosseguir, um fato interessante. Quanto wiccanos não vimos por ai, usando termos como Ser Superior, Criador, Deusa, tudo no maiúsculo? Talvez pareça infantilidade ou falta de argumentos, ou mesmo
mania de pesquisador que adora usar etimologia pra explicar o que não tem explicação.
Mas algumas palavras sobre psicologia poderiam nos ajudar muito a ver uma semelhança nada ocasional no fato.

A entidade criadora na Wicca, é vista mais em seu aspecto feminino.
Utiliza-se daí do conceito de que essa entidade possuía em si tanto a energia masculina, quanto a energia feminina.
Bom, um conceito sofisticado demais para dizer que é originário de povos de cinco mil anos. Não que divindades hermafroditas não existissem, Oxumaré e Hermafrodita, um filho de Afrodite são exemplos. Mas não cercados de explicações esquisotéricas.

Sobre essa não predominância da divindade criadora podemos citar como exemplo os gregos, maias e japas:

Na grécia, podemos começar com Gaia ou Eurinome, apesar de crenças diversas atribuírem a essas deusas, a criação do universo, elas não possuiam papel destacado na religiosidade do estado grego, falando no conceito grego de estado. Isso porque não citaremos Erebo e Nyx, e tantas outras divindades surgidas entre esse povo.

Entre os maias, temos hunab ku, deus do fogo, que criou o mundo, os seres e os deuses. Esse deus, também não exercia papel relevante na religiosidade maia, papel esse dado aos deuses do sol e da lua, cujos nomes, apenas como curiosidade,
Eram Kinich Ahau e Ix Chel, respectivamente.

Para os japoneses, Izanami, mãe da deusa solar, aparecia como origem de tudo.
Apesar disso, nem é lembrada no xintoismo, aparecendo apenas como mãe de Amaterasú.


Bem/Mal
Os católicos/cristãos e seu sistema religioso, como sabemos, possuem um conceito claro de bem/mal. O bem é tudo que está de acordo com a lei do Seu Deus. O mal é tudo aquilo que vai contra essa regra. Simplificando, o Bem é o que representa suas crenças, dogmas e as bases de sua sociedade, simbolizadas por Deus e suas hierarquias. O mal é tudo aquilo que atenta diretamente contra esses conceitos.
É a oposição a Deus. Sendo simplista, o mal é a oposição ao que se considera bem.

Falando politicamente, o cristinismo precisava criar esse conceito para se expandir, polarizar a disputa com as demais religiões. Isso é clássico, numa disputa, nós polarizamos a questão. O deus do outro é mal, ruim. Maquiavel que o diga.

Lembremos que, desde sua origem, o cristianismo, e o catolicismo especificamente, disputaram com o paganismo greco-romano a hegemonia sobre o mundo "civilizado". Ambos demonizavam as crenças adversárias. Disputa de poder e questão de sobrevivência.

A wicca, assim como a umbanda, e ao contrario do cristianismo não é uma religião autóctone. É um sistema criado, uma colcha de retalhos de diversas cores, tamanhos e tipos. Primeiramente, não sendo religião de um povo, de uma classe, ela não representa interesses específicos. Não simboliza, como a maioria das religiões, as características de uma nação ou estado. Não é, tampouco, os pilares de uma sociedade. Não representa por fim, o ideal de uma raça ou população. É apenas algo criado. Fruto de uma salada de ritos e crenças organizados por Gerald Gardner, aonde ingredientes vem sendo adicionados ao longo desses 50 anos. Nesse contexto, não representando uma bandeira especifica a Wicca não precisa polarizar conceitos de bem/mal. Não precisa demonizar os deuses ou deus alheio. Ela é fruto desse deus, com alguns elementos litúrgicos variados. Não é algo que ameace que contraponha diretamente o cristianismo. Ela, não representando nenhuma ameaça se torna algo insosso. Como diz o conhecimento popular, não é 8 nem 80.
Poderiamos até falar que, nesse aspecto, a wicca pode tanto ser um braço cristão para manter os descontentes na linha, como a umbanda, ou mesmo, como acredito, e talvez por não tiver sido criada pelo catolicismo, mas agregada, uma forma incipiente de resistência. Uma forma modesta de cultuar os deuses antigos, sem afrontar o Deus atual.

Estou afirmando que a wicca não possui conceito de bem e mal?
Não. Ele existe, mas não é tão escancarado. Podemos dizer, que como na umbanda e outras religiões do tipo, o mal na wicca não é o "outro", mas está ligado a visão de "pecado", está ligado a si mesmo e aos seus atos. Ora, muitos dirão que não existem pecados na wicca. Vamos ver o que é um pecado. O dicionário, consultei três, não coloco em plural pra econimizar o "s", diz que pecado é uma transgressão a um preceito religioso.

Uma das leis da wicca é: se não prejudicar a ninguém, faça o que você quiser.
Pimba! Essa crença, muito parecida com o karma dos budistas, podemos achá-la nos dez mandamentos dos cristãos.

Então, o mal na wicca seria tudo aquilo prejudicial a outro ser.
Que coisa mais hipocrita-pseudocristã-newage.

Um dos conceitos wiccanos que embasam essa crença, é o de que todo ser vivo é uma manifestação da divindade, sagrado. Logo, sacrificar qualquer ser vivo seria errado, porque transgride o preceito religioso de não prejudicar. Pena que os wiccanos se esquecem que a própria vida se alimenta de vida.

Os povos pagãos, mesmo algumas correntes, principalmente as neo-pagãs, insistindo em dizer o contrário, possuíam um conceito polarizado de bem e mal. Como o cristianismo, os gregos, os vikings, os astecas definiam como bem e aceito todas as características necessárias para sua sociedade. Seus deuses representavam seus valores, conceitos e comportamentos. O mal era tudo aquilo que provinha do outro, que prejudicasse sua expansão, seu crescimento, seu domínio. Os deuses dos povos inimigos também eram inimigos, justamente porque todos esses povos, quando em guerra, buscavam a Sua sobrevivência, e sabiam que tanto sua sobrevivência física, quanto moral e espiritual dependia da destruição ou subordinação do inimigo.

Bom não era o amor pelo próximo como prega o cristianismo e a wicca. Mas a supremacia. Paul Sartre, tem uma frase, que não foi escrita sobre esse tema, e Sarte nem era pagão também, mas que ilustra um pouco:
"o inferno são os outros".

Para exemplificar, citamos a velha Esparta: Ruim eram os fracos, os que possuiam defeitos físicos (o que impossibilitava a participação nos combates), as mulheres, os artistas, etc.
Qual era a divindade suprema em Esparta? Ares, o deus da guerra.

Deuses são a expressão de um povo, seus valores, sua arete, como diziam os gregos.

Por isso talvez a Wicca seja algo tão a parte do paganismo, ela não defende valores próprios, apenas assimila um arcabouço pútrido de conceitos cristãos, com divindades milenares, completamente difusas desses conceitos.

A Wicca é cristã? Não, oficialmente, apenas oficialmente, wiccanos não vêem Cristo como filho de "Deus". A Wicca é pagã? Difícil concordar. Cada povo pagão possuiu o seu ideal de ser humano, sua Paidéia. A Wicca é contra todos esses ideais. Prega valores contrários a qualquer povo pagão.

Em uma análise mais pragmática, podemos concluir que a Wicca é uma
Religião sem pátria, uma religião nômade que anda de povo em povo buscando deuses para oferecer a cristãos e ocidentais irritados com sua sociedade estressante e ansiosa em produzir lixo industrial. Basta olharmos o número de neo-pagãos provenientes do cristianismo que desembarcam na Wicca em busca de uma aventura, um campo para desenvolver seu ativismo ecológico, uma possibilidade de ser diferente, radical, ou mesmo um desejo sincero de se "religar", mas teimando em continuar com seus dogmas, seus preceitos, sua moral.

Com todo o respeito aos wiccanos sérios (raríssimos), a Wicca não é a resposta de um povo, de uma nação a uma sociedade fétida, construída sobre pilares que precisam ser destruídos.

É, como a Umbanda e outros movimentos religiosos, um símbolo de uma batalha vencida pela hipocrisia do cristianismo.

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